A velha casa vazia


Uma leve brisa levantou as folhas secas do chão e arrastou-as. O restolhar lembrou-a que o outono já estava a chegar, devagarinho, amansando o calor de verão. Fora isso, o silêncio da casa abandonada conduziu-a a uma espécie de nostalgia suave. Alongou o olhar pelo jardim e percorreu a buganvília, que crescera até ao telhado, imponente e florida. Demorou-se ali, invadida pelas lembranças de risos das crianças que ali tinham vivido, correndo e brincando, agarradas aos livros e aos jogos, cabecinhas de cabelos dourados e rostos rechonchudos, olhos de amêndoa e riso fácil... mas logo ouviu o choro e os passos de corrida, o medo e o pânico, a chorar e a pedir ajuda. Estremeceu.


Caiu imediatamente em si e pensou que tinha feito bem em sair dali com elas, fugido para longe, sem nunca olhar para trás, pô-las em segurança da loucura que lhes rompia a vida.

E agora, após muitos anos, tinha voltado e, ali sozinha, não tinha mais sentimentos em relação a essa casa, a essa relação, a esse passado. A casa estava vazia. Ela estava vazia.

Mas não, pensou, não estou vazia. A minha vida toda foi cheia, fiz tudo o que era necessário, tudo o que era de esperar. Os anos do mal eram uma pequenina parte da sua vida, podia esquecê-los, agora, de vez.

 

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