As terras do presidente
Pequena história
As terras do presidente eram como uma esmeralda arrancada da rocha. Terras de um verde vibrante, resplandecente sob o sol equatorial e castanhas, terrosas, vazias, para norte. As distâncias eram enormes entre os vilarejos que surgiam perto de algum pequeno oásis. As casas pobres alinhavam-se e viam-se meia dúzia de pessoas jovens. Perguntavamos-nos onde estariam os milhões de pessoas que habitavam o país. Seria certamente nas cidades mais a sul, ou na costa, banhada por um mar calmo cor de turquesa.Mas mesmo os vilarejos escassos nada eram se penetrássemos na vasta estepe. Aí víamos, de quando em quando, algumas cubatas.
Num país tão jovem, que não tinha sido ainda devastado pela guerra, muito se mantinha há muitas gerações. E as inovações eram poucas, apenas aquelas que tinham servido os propósitos dos colonos ingleses, como a ideia de ligar o Cairo ao Cabo, um velho e decadente trilho ferroviário.
Nesses locais escondidos ainda se praticava uma atividade agro pastoril de subsistência. E mais nada havia. Era o vazio da pobreza mais completa.
Penso que foi nesses locais abandonados à sua sorte que se enraizou a doença. A doença não passava do ataque de uma pulga, mas a necessidade de procurar comida levava as pessoas a ignorar as picadas, os papos e as noites mal dormidas. A doença. com o tempo, vitimizava as pessoas, que se sentiam incapazes de encontrar soluções. E se procurassem ajuda nos velhos hospitais anglicanos, eram recusados pois matar pulgas não era dignificante. E nas escolas, as professoras mandavam as crianças com pulgas para casa, com o recado de só voltarem depois de limpas. E a igreja anglicana, rezava pelos aflitos e mandava-os para casa, que Deus já os tinha perdoado, pois a doença era do espírito. E os vizinhos e as vítimas acreditavam e escondiam-se para não serem sujeitos aos comentários e aos olhares trocistas de todos, pois todos sabiam que tinham pulgas.
Aquele homem decidiu atuar e começar a tratar das vítimas de ataques de pulgas. Ganhou a confiança das pessoas, que passaram a recebê-lo e a procurá-lo. E as suas ajudantes livravam-nos daquilo. E voltavam, de vez em quando, para verificarem se tudo corria bem. E distribuiam sapatos e trocavam-lhes as roupas rotas por roupas novas. E lavavam-nos e cortavam-lhes as unhas. E davam-lhes conselhos básicos para que as pulgas não os atacassem mais. Muitas casas foram cimentadas. Outras, reconstruídas. E eram limpas e as roupas de cama deixavam de ser sacos de ráfia e passaram a ser lençóis e cobertores.
Aquele homem não recebia apoio de ninguém, a não ser pequenas dádivas de pessoas de todo o mundo.
Era uma figura imponente. Irascível. Cortante nos comentários à Igreja Anglicana e à sua salvação pela fé sem obras, ao governo corrupto e às ONGs que desviavam o dinheiro que era dado para África. E troçava de quem considerasse imbecil. Era um homem intratável, com sucesso pela ação e que não precisava de mais ninguém a não ser dos seus técnicos e dos pequenos doadores.
As perseguições seguiram-se, de longe e de perto. Como podia o governo lidar com aquele homem poderoso que não os respeitava. Ele devia ter sido mais cauteloso. A sua bondade não poderia tê-lo feito desconfiar que uma cilada o colocasse em causa. E um seu amigo foi morto e ele foi acusado embora não condenado pela sua morte. A suspeita não arruinou a sua obra, mas agora ele está como que aprisionado, domesnticado por aqueles a quem não recorreu e de quem publicamente denunciou.
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