O Nevoeiro Da Vida
Desde sempre me senti abandonada e cresci com uma independência marcante da opinião e da vontade dos outros. A solidão sempre me acompanhou.
Empenhei-me em fazer o máximo que as minhas forças permitiam, exigência da minha natureza, mas também esforço para fugir à ideia que me foi transmitida de nunca acabava nada do que começava.
Foi assim que vivi mais de cinco décadas, esperando que a minha vida fosse bem sucedida, completa e breve. Porque também nunca ninguém esperou que eu vivesse muito tempo.
Os anos passaram. Concretizei tudo aquilo a que aspirava. Não foi pouco. Até que um dia nada restava para fazer e caí doente de desânimo, pois não sabia descansar. Nada mais me movia, desisti de tudo, pensei que era o meu fim e não me incomodava a ideia de, simplesmente, murchar até desaparecer, desejando apenas que nunca ninguém se lembrasse de mim.
E foi então que um novo fôlego me fez voltar à vida e, agora, à vida que, no fundo, sempre desejara, livre de pressões, apenas minha, já que todos os que de mim dependiam construíram os seus próprios caminhos e, sem delongas, os começaram a percorrer.
A cidade atraía-me, com os seu movimento e cores. A animação constante distraía-me. Gostava das ruas cheias, do barulho do tráfego. Dia ou noite, os meus olhos maravilhavam-se com tudo o que era fugaz. Assim vivia feliz, mas anestesiada. O tempo passava rapidamente e as noites eram longas o suficiente para que descansasse e retomasse tudo no dia seguinte. O tempo realmente passou e trinta anos desapareceram, deles ficando apenas uma impressão. Nunca me debrucei sobre os pormenores, que eram muitos e, por vezes, penosos de recordar. Sentia-me satisfeita com os resultados finais.
Mas, quando tive tempo para mim, nenhuma responsabilidade e renovada esperança, fugi para longe e reneguei todo o meu passado. Sozinha, recomecei a viver.
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